quinta-feira, 3 de maio de 2012

CREIO EM JESUS – PARTE II

“CREIO EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR, O QUAL FOI CONCEBIDO POR OBRA DO ESPÍRITO SANTO; NASCEU DA VIRGEM MARIA; PADECEU SOB O PODER DE PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO

O credo agora pula do nascimento de Jesus para a Sua morte. Nada é dito sobre a vida e ministério de Jesus! A vida de Jesus não foi importante? Claro que sim! Nós somos justificados por causa da perfeita obediência de Jesus. A vida de perfeita obediência é imputada em nós pela fé. Mas por que o credo não fala sobre a vida de Jesus? É muito provável que o Credo Apostólico quer focar no propósito da vinda de Jesus.

A razão pela qual o Filho de Deus se fez homem foi para derramar Seu sangue como um sacrifício completo, perfeito e suficiente.” (J.I. Packer, Growing in Christ, Crossway, pg 52)

A transição do nascimento para a morte indica que Jesus veio para morrer!

1 - PADECEU --- sofreu [latim: passus - paixão]. Diferente da expectativa messiânica dos judeus no primeiro século – Jesus, o verdadeiro Messias, veio para sofrer!

Os sofrimentos de Jesus não foram para purificar a Sua própria alma, não foram consequências de uma vida de pecados, não foram apenas exemplares – mas sim, pelos nossos pecados!

I Pd 3:18 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito;

O foco dos sofrimentos de Jesus está no fato dos sofrimentos dEle terem sido substitutos – os sofrimentos de Jesus foram no lugar do Seu povo! É isso o que Pedro fala: ‘os sofrimentos do justo, no lugar dos injustos’, servem para nos levar a Deus!

A teologia dos sofrimentos e da morte de Cristo como sendo substitutas é encontrada tanto no AT quanto no NT: Is 53:3-5 3 Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima. 4 Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós o consideramos castigado por Deus, por ele atingido e afligido. 5 Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados; Rm 8:32 Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós; Hb 9:28 assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam; Lc 24:25-27 Ele lhes disse: "Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?" E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.

OS SOFRIMENTOS DE CRISTO:

1 – Lembra-nos que Ele sofreu em nosso lugar. Ele não merecia! Nós merecíamos todo aquele sofrimento! A morte de Jesus foi nosso lugar, a obra foi toda feita por Ele (sola fide)!

2 – Esse foi o propósito de Jesus vir ao mundo – padecer no nosso lugar, tomando sobre Si a ira de Deus (Ap 13:8 todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo).

3 – Nos fala do nosso chamado, apesar dos nossos sofrimentos não trazerem redenção, eles fazem parte do caminhar dos discípulos de Jesus. Pedro usa os sofrimentos de Jesus para nos exortar: I Pd 2:21 Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.

2 - SOB O PODER DE PÔNCIO PILATOS --- Ao citar Pilatos o credo proclama a historicidade da morte de Jesus. A morte de Jesus foi um fato histórico e verdadeiro!

Quando o credo declara que foi no tempo de Pilatos, ele está declarando que a morte de Jesus ocorreu num momento que pode ser datado. Diferente dos relatos de outros deuses e de outros eventos mitológicos a morte de Jesus foi um evento na história que foi relatado por outras pessoas [ex. Tácito e Josefo].

Ao citar o nome de Pilatos o credo tem por objetivo:

A – Consolidar a historicidade da morte de Jesus. É um evento histórico!

B – Pilatos era o Publica Persona – ele representava a opinião de todos. Ao colocar Jesus na cruz Pilatos expressou a opinião do povo. Nós – através de Pilatos – colocamos Jesus na cruz!

C – Pilatos era um gentio. Ser entregue nas mãos dos gentios representava o julgamento e a ira de Deus [Dt 21:10; Jz 2:14; Is 19:4; Sl 106:41; I Cr 21:13]. Ao declarar que Jesus morreu sob o poder de Pilatos o credo declara que Jesus recebeu a ira de Deus! A ira que estava sobre nós caiu em Jesus!

3 - FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO

CRUCIFICADO’ --- fala do tipo de morte de que Jesus recebeu. A ira de Deus sobre Jesus foi demonstrada claramente no tipo de morte que Ele recebeu: Jesus morreu como o pior de todos os criminosos e rebeldes da Sua época!

Esse era o processo mais horroroso e humilhante de matar alguém! A pessoa era despida e apanhava publicamente, depois carregava um pedaço de madeira com o qual seria crucificado, era amarrada e pregada a cruz e ficava sendo exibida a todos como lição de punição.

Processo da Crucificação:

1 - A crucificação era precedida de flagelação (flagellum = açoite de couro); 2 - O condenado levava a sua própria cruz ou pelo menos a haste horizontal (patibulum); 3 - Pendurada ao seu pescoço havia uma placa que anunciava o crime; 4 - Depois de amarrado à cruz, era deixado para morrer de inanição; 5 - Quando era pregado à cruz, às vezes lhe davam uma bebida entorpecente; 6 - Um pequeno bloco de madeira (sedile) servia de apoio para o corpo ou os pés. Três agravantes: a - exposição ao sol e aos insetos; b - posição retorcida do corpo; c - sede insuportável.

Cícero: “Que o próprio nome da cruz esteja distante não somente do corpo de um cidadão romano, mas até mesmo de seus pensamentos”. Ele também disse: “A crucificação é a mais terrível e horrorosa de todas as punições”.

Mas a crucificação não fala só dos horrores que Jesus passou, ela também fala da soberania de Deus em todo o processo da morte do nosso Salvador.

Esta forma de execução era uma punição romana reservada para escravos e para os piores criminosos, e o fato de que Jesus foi submetido a esse tipo de morte dependia de uma combinação de eventos que nenhum ser humano poderia ter previsto. Era necessário que, embora ele devesse ser preso, acusado, julgado e condenado pelos judeus. Sua sentença de morte deveria ser infligida pelos gentios. Era necessário que a traição e condenação de Jesus ocorressem durante a Páscoa, quando era ilegal para os judeus matarem qualquer homem. A desculpa dos governantes judeus, que não podiam executar a morte, não significa que esse poder havia sido retirado deles, mas que era contra a lei deles exercerem condenação naquele dia. Se o tempo tivesse sido outro, os próprios judeus teriam executado a sentença de morte, eles apedrejariam Jesus. Assim, a Escritura foi cumprida Nele, ‘Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro’”. (http://www.reformed.org/documents/index.html)

A cruz que era o sinal de humilhação, vergonha e horror se torna para o cristão o símbolo de graça, amor e redenção! A crucificação mostra que o Evangelho é escândalo e desprezo para muitos, mas para os cristãos é o poder de Deus!

MORTO – A consequência da crucificação foi a morte! Jesus precisava morrer!

A morte de Jesus é celebrada pelos cristãos toda vez que celebramos a Ceia do Senhor. Diferente das outras religiões que lamentam a morte de seus líderes o cristianismo celebra a morte do seu Líder!

Alguns falsos ensinos surgiram alegando que Jesus não havia sido morto verdadeiramente. O docetismo alegava que Jesus nunca teve um corpo material. Aqui o Credo Apostólico vai contra esses tipos de ensinos!

A morte do nosso Senhor é alicerce da fé cristã – I Co 15:3-5 Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, 5e apareceu a Pedro e depois aos Doze.

Sem a morte de Jesus não há Evangelho!

Jesus não só sofreu no nosso lugar, mas Ele morreu por nós!

O sangue precisava ser derramado e a morte necessitava ocorrer! Na economia de Deus a Sua ira só podia ser apaziguada mediante a morte de um sacrifico perfeito!

Lv 17:11 Pois a vida da carne está no sangue, e eu o dei a vocês para fazerem propiciação por si mesmos no altar; é o sangue que faz propiciação pela vida.

A morte do nosso salvador deve ser proclamada, pois é através da morte de Jesus que nós temos vida!

E SEPULTADO’ -- Os corpos dos criminosos crucificados não eram enterrados, eles permaneciam na cruz para apodrecerem ou serem comidos pelos animais. Mas o de Jesus foi sepultado como sinal de que Deus aceitou a Sua morte (Is 53:9)!

A soberania de Deus no sepultamento de Jesus:

1 – Deus havia falado através do profeta Isaias que Jesus seria sepultado – 53:8-9 Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.

A ação de sepultar Jesus já é a primeira demonstração da vindicação do Servo Sofredor!

2 – Por Jesus ter sido crucificado na Páscoa os judeus não queriam os corpos naquela região enquanto milhares de pessoas passavam por lá – Jo 19:31 Esse era o Dia da Preparação, e o dia seguinte seria um sábado especialmente sagrado. Por não quererem que os corpos permanecessem na cruz durante o sábado, os judeus pediram a Pilatos que ordenasse que lhes quebrassem as pernas e os corpos fossem retirados.

Deus usa o tempo em que Jesus foi crucificado para cumprir a promessa do sepultamento de Cristo!

O sepultamento de Jesus reforça a ideia de que Ele realmente morreu. O corpo de Jesus foi sepultado - Mt 27:65 "Levem um destacamento", respondeu Pilatos. "Podem ir, e mantenham o sepulcro em segurança como acharem melhor".66 Eles foram e armaram um esquema de segurança no sepulcro; e além de deixarem um destacamento montando guarda, lacraram a pedra.

Jesus recebeu a ira de Deus em Seu corpo – sendo crucificado, morto e sepultado!

F – “CREIO EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR, O QUAL FOI CONCEBIDO POR OBRA DO ESPÍRITO SANTO; NASCEU DA VIRGEM MARIA; PADECEU SOB O PODER DE PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO; DESCEU AO HADES; RESSURGIU DOS MORTOS AO TERCEIRO DIA

1 - DESCEU AO HADES descendit ad inferna

Essa é a frase do credo mais debatida entre os cristãos. Nenhuma outra afirmação trouxe e traz tanto debate como essa que diz que Jesus ‘desceu ao hades/inferno’.

De acordo com Wayne Grudem, a frase "desceu ao inferno” não foi encontrada

em qualquer uma das versões iniciais do credo e ela não foi incluída em qualquer outra versão do Credo do Apostólico até 650.

INTERPRETAÇÕES:

Muitos falam que Jesus desceu ao inferno – lugar de punição para os injustos – para: 1) Pegar as chaves do inferno; 2) Buscar os santos que lá estavam [limbus patrum]; 3) Experimentar a plenitude dos sofrimentos; 4) Proclamar Sua vitória sobre os inimigos; 5) Pregar as boas novas. Baseando em passagens como I Pe 3:19-20 e Ef 4:8-9.

Muitos pastores do movimento pentecostal de curas e milagres – Word of Faith Movement – usam essa ideia de que Jesus desceu ao inferno e sofreu ao lado de satanás para alegar que Jesus sofreu até no inferno para trazer uma restauração total para os cristãos. Uma grande invenção da parte dos homens!

A Palavra INFERNO:

No latim a palavra usada é ‘inferna’ ou ‘inferus’ – que significa baixo. O texto grego do Credo Apostólico usa a palavra κατώτατα (katotata) = baixo, partes baixas ou inferiores (Ef 4:9).

A palavra infernos é geralmente usada para traduzir a palavra grega hades. Hades é geralmente usada no lugar da palavra hebraica sheol.

O grande problema é que na nossa mente toda vez que ouvimos a palavra ‘inferno’ nós já pensamos no lugar de punição do ímpio. Mas as palavras infernos (latim), hades (grego) e sheol (hebraico) tem na maioria das vezes outro sentido!

Sheol – [shĕ'owl - שְׁאוֹל] – shĕ'owl tem um sentido geral de lugar dos mortos – de todos os mortos. Ela é geralmente traduzida como sepultura, sepulcro, cova – (algumas versões traduzem como ‘inferno’ – mas eu não concordo).

Uma terceira interpretação é que sheol não descreve o lugar onde as almas dos mortos vão, mas o lugar onde os corpos vão – a sepultura. Essa interpretação da palavra sheol figura uma típica sepultura da Palestina, escura e com vermes. Todas as almas dos homens não vão para um mesmo lugar mas, todas as pessoas vão para a cova.” (Theological Wordbook of the Old Testament – R.Lay Harris, Gleasson Archer, Bruce Waltke – Moddy).

HadēsἍδης - essa palavra aparece 10x no N.T. e muitos acreditam ser semelhante à palavra hebraica sheol – sendo hadēs também um lugar geral para os mortos. A palavra hadēs pode significar, "a morada invisível ou mansão dos mortos, o lugar do inferno - punição, o lugar ou condição mais baixa que alguém pode estar”.( William D. Mounce, The Analytical Lexicon to the Greek New Testament, (Grand Rapids Zondervan, 1993), 52-53.)

Hadēs não necessariamente implica no lugar de punição, na maioria das vezes ela tem o sentido de morte e sepultura no NT.

“‘Hadēs’ é a habitação dos mortos. É a palavra grega equivalente à hebraica sheol (Sl. 6:5). A versão Revista e Atualizida traduz Hadēs como inferno, mas isso é enganoso. Jesus não estava se referindo ao tormento do inferno eterno; estava afirmando que o sepulcro não poderia reter os eleitos. As portas (obstáculos) da morte não foram capazes de deter Jesus e não podem manter cativo o cristão – (I Co. 15:55). Sendo “as portas do Hadēs não prevalecerão” uma promessa de ressurreição.” (Com Vergonha do Evangelho, John MacArthur – Fiel, pg. 208).

A palavra mais usada para representar o lugar de julgamento dos ímpios é a palavra geenna (γέεννα).

Para uma melhor explicação sobre o inferno ver: http://solideogloriacampinas.blogspot.com/2011/02/jesus-ensina-sobre-consequencia-da_15.html?spref=tw

A palavra inferno no Credo Apostólico tem o sentido de sepultura – o lugar mais baixo. Isso enfatiza a verdade declarada anteriormente que Jesus havia sido sepultado. Por ter sido sepultado Ele realmente desceu ao inferno (katotata) – ao túmulo, a cova – ao lugar mais baixo!

POR QUE JESUS NÃO DESCEU AO INFERNO (lugar de punição do ímpio)?

1 – Na cruz Jesus declarou, ‘Está consumado!’ (Jo 19:30). Jesus não foi ao inferno para sofrer mais.

2 – Na cruz Jesus disse que naquele mesmo dia Ele estaria no Paraíso (Lc 23:43).

3 – Jesus não precisou descer ao inferno para pegar as chaves da morte, pois de acordo com Daniel 7 toda a autoridade foi dada a Jesus pelo Ancião dos Dias na ascensão dEle.

Ao declarar que Jesus desceu ao Hades o credo enfatiza que o processo da morte foi totalmente concluído. Jesus não apenas apareceu estar morto, não ficou em estado de coma, mas experimentou a morte por completo.

Jesus desceu á cova mais baixa, experimentou a morte por completo como consequência do Seu sepultamento!

O que o credo diz, é que Jesus entrou, não no gehena, mas no hades – isto é, Ele realmente morreu, e isso foi uma morte genuína e não simulada”. (J.I. Packer, Growing in Christ, Crossway, pg 56)

Jesus morreu a nossa morte! Ele foi verdadeiramente sepultado! Foi ao fundo da cova para depois ressuscitar e vencer o último inimigo!

Bons artigos: http://www.ligonier.org/learn/qas/what-does-apostles-creed-mean-when-it-says-jesus-d/

http://www.frontline-apologetics.com/Apostle_Creed.html

http://www.reformed.org/documents/index.html

http://www.thirdmill.org/files/portuguese/13874~9_19_01_10-42-34_AM~heber1.htm

http://www.monergismo.com/textos/inferno/Cristo-desceu-inferno_piper.pdf